segunda-feira, 30 de junho de 2008

DEPOIS DA CHUVA

NA RUA, UMA MULHER SE PROTEGE DA CHUVA ENCOLHIDA SOB UM GUARDA-CHUVA. UM HOMEM SE APROXIMA.

HOMEM - Que chuva, heim?
MULHER - Humrum!!
HOMEM - Você está muito tempo aqui?
MULHER - Sim!
HOMEM - Não tenha medo, não vou lhe fazer mal!
MULHER - Não tenho medo!
HOMEM - Você vai para onde?
MULHER - Não sei ainda!

UM RAIO RASGA O CÈU, A MULHER SE ENCOLHE AINDA MAIS. O HOMEM TENTA PROTEGÊ-LA, MAS ELA O AFASTA.

HOMEM - Só queria lhe proteger!
MULHER - Homens só protegem com segundas intenções!
HOMEM - Não tinha intenção nenhuma!
MULHER - Mas tentou me agarrar!
HOMEM - É que lhe senti assustada com o raio!
MULHER - Pode deixar que estou bem!
HOMEM - Sabe, eu também tenho medo de raio!

A MULHER ESBOÇA UM SORRISO NO CANTO DOS LÁBIOS.

HOMEM - É verdade! Você acha que homem não sente medo?
MULHER - Homens se acham muito superiores.
HOMEM - Você deve ter sofrido muito, não é mesmo?
MULHER - Mulheres sempre sofrem!
HOMEM - Mas, não deviam sofrer tanto!
MULHER - Posso lhe fazer uma pergunta?
HOMEM - Claro que sim!
MULHER - Você é homossexual?
HOMEM - Pareço?
MULHER - Não!
HOMEM - Então por que você me fez essa pergunta?
MULHER - Homem que trata bem mulher hoje em dia, só os homossexuais!

O HOMEM ESBOÇA UM SORRISO NO CANTO DOS LÁBIOS.

MULHER - É verdade! Todo homem é cafajeste!
HOMEM - Acho que o problema não é do homem, é da humanidade!
MULHER - Isso você tem razão!
HOMEM - Você fugiria comigo?
MULHER - Eu nem lhe conheço direito!
HOMEM - A gente se conhece com o passar dos tempos!
MULHER - Não posso!
HOMEM - Por quê?
MULHER - A chuva!
HOMEM - Eu te protejo!
MULHER - Não acho que posso confiar em você!
HOMEM - Eu estou disposto a entregar minha vida à você!
MULHER - Por que você faria isso?
HOMEM - Porque eu vou morrer!
MULHER - Jura?
HOMEM - Não tenho muito tempo!
MULHER - Você não tem ninguém?
HOMEM - Nunca soube aproveitar o que me deram?
MULHER - Está arrependido?
HOMEM - Não!
MULHER - Então por que você quer que eu vá com você?
HOMEM - Queria um colo pra morrer em paz!
MULHER - E por que eu?
HOMEM - Você também está a espera de alguém!
MULHER - Quem lhe disse isso?
HOMEM - Mulheres quanto estão sob a chuva é porque esperam por alguém!
MULHER - Talvez eu tenha me despedido de alguém!

A CHUVA QUE ERA FORTE, AGORA TEM POUCO INTENSIDADE.

HOMEM - Vem comigo!
MULHER - Não posso!
HOMEM - Olha, a chuva já está parando!
MULHER - Você vai morrer!
HOMEM - Depois da chuva sempre vem o sol.
MULHER - Mas, eu vou sofrer!
HOMEM - Mas, vai valer à pena!
MULHER - Não sei!

A CHUVA PÁRA.

HOMEM - Olha só! Não precisa mais esperar!
MULHER - Mas, eu não estou esperando!
HOMEM - Eu nem estava procurando e te encontrei!
MULHER - Só posso ir até metade do caminho. Tudo bem?
HOMEM - Tudo bem!
MULHER - Mas, e se eu me apaixonar?
HOMEM - Terá valido à pena!

O SOL SE ABRE E OS DOIS SAEM DE MÃOS DADA.

sábado, 28 de junho de 2008

O Teatro pode ser popular?

Muito se discute sobre a popularização do Teatro e a dificuldade que é aproximá-lo de todas as camadas sociais, o tornando assim, uma arte de massa. Ora, como se explica, uma arte que tem como essência retratar as questões de uma sociedade, não conseguir atingi-la como um todo?

Alguns dizem que o alto preço dos ingressos acaba afastando o público de baixa renda, outros dizem que o teatro é elitista por natureza e afugenta os menos favorecidos que o acham por várias vezes incompreensível. Mas, será que o diabo é assim tão feio como se pinta?

Está certo que por vezes o cenário não é mesmo favorável e o caminho da aproximação entre o Teatro e o povo não é nada fácil, mas ele não é nem elitista quanto parece e nem tão caro que não se possa pagar. Talvez o problema seja muito mais cultural do que financeiro, ou outro qualquer que se queira nomear.

E qual o caminho para essa popularização? Não sei dizer ao certo, mas posso afirmar que certas atitudes contribuem e muito, para a aproximação do teatro e a sociedade. E uma popularização, não se atinge da noite para o dia. É necessário primeiro, formar um público que se interesse pelo Teatro.

Muitas associações e entidades de classes, ou até mesmo algumas prefeituras, têm feito esforços no sentido de levar o teatro o mais perto possível de sua população, subsidiando espetáculos, organizando mostras, realizando festivais e eventos culturais gratuitos, em busca de ofertar ao povo um pouco mais da arte do Teatro.

Pode ser pouco? Pode! Mas, como todos sabem, o caminho até a popularização é longo. Só que são atitudes como estas, que dão mostras de que o teatro pode sim ser popular, pois quando alguém se dispõe a levá-lo à população, esta não se furta a prestigiá-lo.

Que cada um então, a sua maneira, possa dar sua pequena contribuição para que o Teatro possa estar cada vez mais perto da população, o fazendo assim, cada vez mais popular.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

DE OLHO NA VIDA ALHEIA

UMA MULHER SENTADA NO SOFÁ, ASSISTE TV. ENTRA O MARIDO.

MULHER - Você ta sabendo da novidade?

O MARIDO PASSA E NEM DÁ BOLA PARA MULHER. SAI EM DIREÇÃO AO QUARTO.

MULHER - Sabe a vizinha aí da frente? Dizem que ta de amante novo!
MARIDO - (EM OFF) É mesmo?
MULHER - Não se fala em outra coisa. É no açougue, no supermercado, na feira. Sabia que até tem um bolão para ver quem acerta?
MARIDO - (EM OFF) E você, o que acha?
MULHER - Eu já fiz a minha apostinha!

MARIDO ENTRANDO COM UMA MALA.

MARIDO - E quem você acha que é?
MULHER - Pra que essa mala? Vai viajar?
MARIDO - Eu perguntei: qual o seu palpite?
MULHER - Dá vizinha? Bem, analisando toda as situações, não tenho dúvida de algumas questões.
MARIDO - Quais são?
MULHER - Na certa é um homem mais velho, já estabelecido na vida, que com certeza não vive bem com a mulher, cujo os filhos já cresceram e quer muito viver um grande amor de verdade.
MARIDO - Você acha isso tudo?
MULHER - Acho!

A MULHER LEVANTE-SE E SAI EM DIREÇÃO A COZINHA.

MARIDO - Mas você ainda não disse quem você acha que é!
MULHER - (EM OFF) Mas tenho certeza que é essa pessoa!
MARIDO - E você não vai me dizer quem é?

MULHER ENTRANDO.

MULHER - Só se você me disser pra onde você vai com essa mala?
MARIDO - Se você me disser o seu palpite , te digo pra onde vou!
MULHER - Ta certo.
MARIDO - E, então?
MULHER - Como você sabe, conheço todo mundo nessa rua e sei da vida de todo mundo aqui, por isso...
MARIDO - ... por isso, te chamam de "Fofoqueira Mór!" Isso já sei, pula essa parte!
MULHER - Quem é fofoqueira aqui?
MARIDO - Ninguém! Ninguém!
MULHER - Eu sou apenas uma pessoa observadora, isso sim!
MARIDO - Vai, me diz! Quem é o caso da vizinha?
MULHER - Eu não tenho dúvidas nenhuma, que ela está envolvida com o João lá do final da rua. A relação entre ele e a mulher não é boa faz tempo. Toda a noite é uma gritaria só. Dizem que eles quebram o pau toda à noite! E ele reuni todas as suspeitas, até os filhos já estão crescidos!
MARIDO - E quanto você apostou?
MULHER - Eu apostei Mil! E vou ganhar mole isso aí! Agora me diz: Pra que é mesmo essa mala?
MARIDO - Bem, minha querida, lamento lhe informar que você cometeu dois erros e um acerto!
MULHER - Como assim?
MARIDO - Em relação á vizinha...
MULHER - Que é que tem?
MARIDO - Vou começar pelos erros. Primeiro: Você jamais deveria apostar seco no João! E segundo: Essa mala, é porque estou de mudança para a casa da vizinha. Cansei de viver com uma pessoa que só pensa na vida alheia.

A MULHER DESABA NO SOFÁ, SUPRESA.

MARIDO - (AO SAIR) Ah, o acerto, foi que a sua análise estava perfeita. Acertou em cheio em todas as razões. Tchau! Passar bem!

O MARIDO SAI E BATE A PORTA. A MULHER DESMAIA SOBRE O SOFÁ.

sábado, 21 de junho de 2008

Ih, deu branco!

Tudo parece perfeito, cenário, figurino, atores e atrizes afinados após meses exaustivos de ensaios, a adrenalina a mil a espera do terceiro sinal e junto a tudo isso, a expectativa para que o espetáculo saia como previsto e seja um grande sucesso.

A ansiedade já toma conta das coxias, o texto é passado e repassado por várias vezes antes do espetáculo começar. Cada marcação é revisada cuidadosamente. Não há o que dar errado. Agora é pra valer! Eis então que é dado o terceiro sinal.

Os atores entram em cena, o público se mostra bem receptivo com o que vê, a confiança parece acompanhar cada ator em cena, uma fala aqui, outra fala acolá e, de repente, um silêncio ensurdecedor enche a cena, os atores se entreolham... Ih, deu branco!

Pronto, agora assim, ali em cena, materializado, o momento em que todo ator teme, principalmente os mais novatos: esquecer o texto. O que fazer? Pra onde correr? Aquele silêncio aumentando, o nervosismo também. Os atores se entreolham novamente e eis que o exercício da improvisação aprendido lá no início de tudo, se apresenta como tábua de salvação. Um “caco” preenche então o vazio do texto esquecido.

É, um “caco”! É assim que os atores denominam a inclusão de algum texto que não consta da história original durante um espetáculo. E por muitas vezes, o “caco” acaba sendo de fato, um divisor de águas durante uma apresentação.

Por isso, não há com o que se preocupar, pois se no meio de uma cena você perceber que esqueceu o texto, respire fundo, concentre-se no seu personagem e tente buscar em sua memória alguma coisa que lhe remeta ao texto esquecido, mas se o silencio começar a invadir sua interpretação, exercite a improvisação e inclua sem culpa, um belo “caco”, afinal de contas, o espetáculo tem de continuar.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O PECADO DA IRA

NA IGREJA, UM PADRE ENTRA PARA REZAR A MISSA.

PADRE – Irmãos! Estamos aqui reunidos para... para... para... para que vocês me encham o saco com essa ladainha! É todo dia isso! Eu já não agüento mais! Todos os dias vocês aqui enchendo minha paciência com os seus problemas. O que me interessa os seus problemas. Eu pergunto á vocês: Por quê ao invés de virem assistir a missa, vocês não ficam em casa? Assim, me poupava de mandar vocês embora! Porque é isso a vontade que eu tenho hoje.

APONTANDO PARA UMA CAROLA.

PADRE – E a senhora, ta fazendo essa cara por quê? Devia cuidar da sua vida ao invés de ficar fofocando sobre a vida alheia!

O PADRE ANDA NERVOSO PELO ALTAR.

PADRE – Vocês sabem o que aconteceu comigo? Não pensem que estou louco! Eu estou muito normal, viu? E por que vocês estão fazendo essas caras de paspalhos? Pois, vocês não passam de vaquinhas de presépio que baixam a cabeça para tudo que eu falo. Então eu falo: Vocês me enchem a paciência.

APONTANDO PARA UMA PESSOA QUE SAI SORRATEIRAMENTE.

PADRE – Ei você aí? Ta fugindo? É duro encarar a verdade, não é? Mas é melhor que você vá embora, mesmo! Quem sabe não dá tempo de pegar o outro o homem com a sua mulher em sua cama?

ALGUÉM RI.

PADRE – Quem é que está rindo aí? Não tem nada engraçado! Muito menos um palhaço aqui. Ou vocês acham que eu sou um palhaço? Sou? Por que ninguém responde! Seus covardes! Isso que vocês são! Covardes e fracos!

O SILÊNCIO É TOTAL.

PADRE – São todos uns egoístas! Ninguém quer saber seu tenho problema! Se Jesus me castigou por algum pecado que cometi! Vocês sabem por acaso se o meu time perdeu? É muito fácil vir todos os dias aqui, sentarem seus traseiros gordos nestes bancos, rezarem, rezarem, rezarem.... pedirem perdão, perdão, perdão...

APONTANDO PARA OUTRA CAROLA.

PADRE – Você acha que a sua vida ta ruim? Que seus problemas são mais importantes que os dos outros? Alguém bateu no seu carro? Alguém tentou te assaltar? Você ta passando fome? Vocês só pedem, pedem, pedem.... Eu já não agüento!

O PADRE TIRA DE DENTRO DA BATINA UMA METRALHADORA, AR-15 E METRALHA TODOS OS FIÉIS QUE ESTÃO ASSISTINDO A MISSA. SILÊNCIO. O PADRE TORCE O PESCOÇO PARA UM LADO, TORCE O PESCOÇO PARA O OUTRO. ALONGA OS BRAÇOS SOBRE A CABEÇA E RESPIRA FUNDO.

PADRE – Bem, irmãos! Estamos aqui reunidos, pois temos que aprender a ter mais paciência com o nosso semelhante, entender que todo mundo tem seu dia de fúria, que ninguém é perfeito, por isso irmãos: oremos!

O PADRE SE AJOELHA PARA REZAR. OUVE-SE SIRENES DE AMBULÂNCIAS E CARROS DE POLÍCIA.

sábado, 14 de junho de 2008

A interação no Teatro Infantil

O teatro infantil tem uma característica diferente do teatro adulto, mas nem por isso deve ser encarado como algo inferior. O que acontece é que diferentemente do espetáculo adulto, onde texto e interpretação são pontos chaves, no teatro infantil, a magia do espetáculo como um todo, acaba fascinando o público mirim que enxerga ali, muito da magia e da brincadeira de faz de conta que ele conhece apenas através dos livros.

E quando de repente, sem que esse público espere, ele se vê sendo convidado a participar do espetáculo, não apenas como um simples espectador, mas como parte integrante da história, a magia se torna completa e o fascínio é ainda maior, o público acaba se entregando de corpo e alma. Mas essa interação pode ser perigosa para quem está em cena.

Não é raro ver espetáculos infantis usando o expediente da interação como alavanca para aproximar a platéia, na maioria das vezes, a resposta é positiva e a criançada adora, pois é levada a participar do espetáculo. Mas, vale lembrar que sempre existe o risco de se perder o fio e aquilo que se pretendia ser uma interação pura, passa a ser brincadeira de animação e neste momento, o teatro infantil sai de cena.

Por conta de alguns espetáculos que escorregam nesse tipo de interpretação, baseada no princípio da interação, onde o público acaba sendo fundamental para apresentação, muitas pessoas ainda têm a idéia de que o teatro infantil é apenas brincadeira para distrair criança e não pode ser levado tão a sério.

Não que seja contra quem usa esse expediente, acho até interessante, pois aproxima a criança do teatro, levando muitas delas a quererem freqüentar cursos para um dia estar do outro lado do palco. Só me incomoda quando aquilo que devia ser uma interação, descamba para a balburdia e os atores deixam de ser personagens de uma história, para se transformarem em animadores de festas infantis em cima de um palco.

É óbvio que existem histórias que até levam automaticamente a interação com a platéia e outras, que de tão boas, acabam conduzindo a platéia a uma interação espontânea com os atores, afinal de contas, no teatro infantil a interação está sempre presente e é sadia, pois é a demonstração sincera de quanto aquele público mirim está se envolvendo com a história que é contada.

Mas, como não estou aqui para julgar ninguém, muito menos para criticar o trabalho de quem o faz com dedicação, tentando passar de alguma forma, a magia do teatro, que cada qual descubra a medida certa entre a interação e a interpretação, visando sempre levar ao público mirim, a magia de uma boa história e assim, manter viva a chama do teatro infantil.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

NEM O DIABO ESCAPA!

NO INFERNO, A DIABA ARRUMA SUA MALA CONTENTE. O DIABO CHEGA ENFURECIDO

DIABO - Não acredito que você teve coragem de fazer isso comigo!
DIABA - Eu ia te contar!
DIABO - Logo você que gritava aos quatro cantos que nunca trairia o seu marido!
DIABA - Peraí, não é bem assim, não!
DIABO - Como não?
DIABA - Não é bem assim como você está falando.
DIABO - Ah, não! Então quer dizer que inventaram outro nome pra traição?
DIABA - Olha como você é baixo... Que traição!

A DIABA SAI E VAI ATÉ O BANHEIRO.

DIABO - Não adianta fugir! Quero saber quem é o cara?
DIABA - (Em off) Tenha certeza que ele é muito melhor que você!
DIABO - Você me decepcionou!

A DIABA VOLTA E GUARDA ALGUNS OBJETOS PESSOAIS NA MALA.

DIABA - Você me decepciona há anos!
DIABO - Eu nunca seria capaz de fazer isso que você está fazendo comigo!
DIABA - Quem escuta até acredita!
DIABO - Mas é a mais pura verdade!
DIABA - Você confunde muito ás coisas!
DIABO - Confundo? Sei...
DIABA - Você pensa que eu sou igual á você? Não sou, não! Sou muito diferente! Aliás, nós, mulheres, somos muito diferentes! A gente não fica toda assanhada quando uma diabinha qualquer passa balançado o rabinho e sem nem pensar trata logo de passar o rodo na safada!
DIABO - Não tem nada ver uma coisa com a outra.
DIABA - Ah, tá...

A DIABA SAI E VAI NOVAMENTE ATÉ O BANHEIRO.

DIABO - A nossa natureza é diferente!
DIABA - (Em off) Agora a culpa é da natureza, sei!
DIABO - É isso mesmo!

A DIABA VOLTA COM ALGUMAS PEÇAS DE ROUPAS ÍNTIMAS E COLOCA NA MALA.

DIABA - Vocês precisam entender uma coisa de uma vez por todas. A gente não traí, a gente se apaixona. E foi isso que aconteceu. Eu me apaixonei
DIABO - Que apaixonou o quê! Você caiu na lábia de um espertalhão, isso sim!
DIABA - Que nem eu caí na sua?
DIABO - È diferente!.
DIABA - Ah, diferente? Claro!
DIABO - Lá vem você misturando as coisas!
DIABA - Mas, pode tirar seu cavalinho da chuva, viu? Porque ele é lindo, fala com a alma, tem poesia no olhar... só de pensar fico toda arrepiada...
DIABO - Que isso?
DIABA - É amor! É amor! Agora me dá licença que preciso terminar isso que daqui a pouco ele está chegando aí pra me pegar
DIABO - Que cara de pau! Vou amassar o focinho do descarado.

TOCA A CAMPANHIA.

DIABA - Olha aí, deve ser ele! Deixa eu corre com a mala. Vai atender pra mim, vai!
DIABO - Não entendi!
DIABA - Ai que cínico você é, viu?

A DIABA FECHA A MALA, A DEIXA AO LADO DA CAMA E VAI ATENDER A PORTA.

DIABO - Fique você sabendo que isso não vai ficar assim!

A DIABA VOLTA LENDO UMA CARTA EM VOZ ALTA.

DIABA - ... Minha diabinha preferida, você foi á pessoa mais linda que eu conheci até hoje em toda a minha vida! Te ter do meu lado foi algo muito especial. Mas, quero que você entenda uma coisa: Não é nada contra você! É que sabe como é que é a língua deste povo, já tava todo mundo fazendo fofoca da gente, então, achei melhor dar um tempo, pois a minha reputação ainda muito abalada desde aquele episódio do paraíso... com carinho... Adão!

O DIABO SE JOGA NA CAMA E CAI NA GARGALHADA.

DIABO - Mulher é boba mesmo! Cai na conversa de qualquer Zé Mane!
DIABA - Aí que ódio!
DIABO - Agora vai, esquece essa bobagem! Vai lá dentro, pega uma cerva bem gelada que depois do jogo a gente dá uma chinelada.
DIABA - Não acredito! Homem é tudo igual, nem o diabo escapa!

A DIABA SAI ENFURECIDA.

sábado, 7 de junho de 2008

Dramaturgo, um injustiçado!

Sei que já falei sobre dramaturgia, sobre direitos autorais e muitos outros assuntos relacionados ao texto de teatro, por diversas vezes e de várias maneiras diferentes, mas hoje vou falar do dramaturgo, porque se há alguém injustiçado no meio do teatro, esse alguém é o dramaturgo e não tenho nenhuma dúvida sobre isso.

E nem vou gastar aqui, linhas e linhas falando da dificuldade que é escrever um texto, nem tão pouco me queixar das noites em claro atrás da história perfeita. Não vou nem falar do esforço da transpiração sobre a imaginação quando a história emperra. Isso tudo não tem importância, pois qual a importância do dramaturgo para o teatro? Quase nenhuma.

Afinal de contas, quem se interessa pelos textos de um tal William Shakespeare, ou de um tal Sófocles, de um outro grego de nome Eurípides, ou até mesmo de um certo americano chamado Tenesse Williams, ou ainda de um outro mais próximo de nome Plínio Marcos? Quase ninguém, não é mesmo?

Dramaturgos são realmente pessoas de pouca importância e que não merecem nenhuma consideração quando se pensa em montar um espetáculo. O teatro sobrevive sem eles, pois há outras formas de se expressar o teatro sem necessariamente precisar de um bom texto, não é certo?

Tenho a impressão que dramaturgo é apenas um idiota que perde seu precioso tempo escrevendo histórias que mais tardes serão apropriadas por alguns espertalhões, que em nome da cultura, o tomarão para si, ou simplesmente tratarão de ignorar o autor, o excluindo de qualquer vínculo que possa ter com o texto a ser montado.

Dramaturgo... ainda não sei como e porque acabei me enfiando nisso! Até procuro outras formas de escrever, como a narrativa, os roteiros, as poesias, até as letras de canções, mas escrever para teatro é maior do que eu. Quando penso em escrever uma história, por mais que no final a escreva em outro formato, ela me vem primeiro na forma de carpintaria teatral. E mesmo com toda injustiça, eu ainda insisto.

Espero que um dia esse quadro mude, mas enquanto isso vou seguindo em frente. E mesmo sabendo que volta e meia serei passado para trás e que outras tantas vezes serei ignorado como autor quando de uma montagem teatral, estou certo que continuarei a trilhar esse caminho, pois a dramaturgia está e estará em mim.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

QUEM PRECISA DE ANJO DA GUARDA?

EM UMA RUA, UM HOMEM SE PROTEGE EM MEIO A UMA TROCA DE TIROS.

HOMEM – Agora a gente não tem mais sossego! Quando não é assalto é troca de tiro. Ainda dizem que existe anjo da guarda! Eu tenho certeza que não tenho nenhum!

UM ANJO SE PÕE AO LADO DO HOMEM.

HOMEM – Que isso amigo, fugiu de alguma procissão? Ou é fantasia de alguma escola de samba?
ANJO - Eu sou um anjo!
HOMEM – Ah, tá! Prazer, eu sou um ET!
ANJO – Ou melhor, sou o seu anjo da guarda!
HOMEM – Ah, meu anjo da guarda... Então como você me explica eu estar enfiado no meio deste tiroteio?
ANJO – A cidade tá cada vez mais violenta, não é mesmo? Mas, não se preocupa que estou aqui justamente para te livrar desta.

HOMEM TENTA SAIR DO ESCONDERIJO E O ANJO LHE PUXA DE VOLTA.

ANJO – Onde você pensa que vai? Tá maluco!
HOMEM – Vou embora! Você não disse que ia me tirar desta? Então, se eu ficar aqui, vou acabar perdendo o meu emprego. E aí, não vai ter anjo que dê jeito!
ANJO – Mas, não é bem assim...
HOMEM – Tô vendo que você não é meu anjo, coisa nenhuma!
ANJO – Claro que sou!
HOMEM – Taí, então me prova!
ANJO – Se lembra quando você era criança, subiu no pé de carambola e desabou de lá de cima e não sofreu nenhum arranhão?
HOMEM – Claro que lembro! Caí em cima de um colchão que estava embaixo da árvore!
ANJO – E você acha que foi quem, que colocou o colchão embaixo da árvore? Ou você já viu árvore com colchão em volta?

O HOMEM FICA PENSATIVO.

ANJO – E então?
HOMEM – Agora eu te pego!
ANJO – Manda!
HOMEM – E aquele dia que furou o pneu do meu carro e eu cai na ribanceira me arrebentando todo? Onde você estava?
ANJO - Quem você acha que te tirou de dentro do carro antes que ele pegasse fogo?
HOMEM – Sei lá, eu estava desacordado!
ANJO – Pois é meu amigo, você me dá um trabalho e tanto, sabia?
HOMEM – Não sei, não! Se anjo da guarda existisse mesmo, eu não vivia levando susto por aí!
ANJO – Eu que o diga!
HOMEM – E quer saber de uma coisa: Eu não preciso de anjo da guarda nenhum!
ANJO – Como não?
HOMEM – Se minha vida ainda fosse uma maravilha...
ANJO – Mas, podia ser pior!

UM TIRO ACERTA UM VASO NA JANELA QUE CAÍ AO LADO DO HOMEM. O ANJO SE ESCONDE.

HOMEM – Olha aí, um vaso quase cai na minha cabeça e você se esconde!
ANJO – Ufa! Essa foi por pouco!
HOMEM – Eu que o diga!
ANJO – Já não agüento mais viver numa cidade tão violenta! Você não pensa em mudar daqui?
HOMEM – Mudar? Escuta aqui, seu anjo! Se você é mesmo o meu anjo da guarda, está demitido! Quem precisa de um anjo como você?
ANJO – Mas, você não pode me demitir!
HOMEM – Claro que posso!.. E é melhor você sumir daqui, antes que eu faça alguma besteira!
ANJO – Tem certeza?
HOMEM – Tenho!
ANJO – Olha que depois não vou poder fazer nada pra te ajudar!
HOMEM – Eu não precisa da sua ajuda!
ANJO - Então, tá bem! Depois, não diga que não avisei!
HOMEM – Vai, some!
ANJO – Boa sorte, meu ex-protegido!

O ANJO SAI NO MEIO DO TIROTEIO.

HOMEM – Anjo da guarda! Era só o que me faltava!

UM TIRO ACERTO O OUTRO VASO EM CIMA DA JANELA QUE CAI EM CHEIO NA CABEÇA DO HOMEM, QUE DESABA MORTO NO CHÃO. O TIREOTEIO CESSA. O ANJO SE REAPROXIMA

ANJO – Quem precisa de anjo da guarda, não é mesmo?